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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 12 (parte 2 de 2)

Continuando a anotação do trabalho de Miller 2004, segue a parte final.

Apesar dos números não serem animadores, a correlação encontrada entre grau de alfabetização científica e instrução científica informal indica a importância da divulgação científica (embora, claro, a correlação não indique uma relação necessária de causa e efeito).

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Miller, J.D. 2004. Public understanding of, and attitudes toward, scientific research: what we know and what we need to know. Public Understand. Sci. 13: 273-94. doi: 10.1177/0963662504044908

Atitudes em relação à pesquisa científica (Attitudes toward scientific research)
Apesar (ou por causa) de uma minoria dos americanos terem um bom nível de conhecimento científico, várias pesquisas desde o fim da Segunda Guerra indicam que a maioria é interessada em ciência e tecnologia, acreditam que elas contribuíram para o padrão de vida atual e apoiam o investimento governamental.

Importância da pesquisa científica (Salience of scientific research)
Desde pelo menos meados da década de 1980, cerca de 70% dos americanos declaram interesse nas novas descobertas médicas.
Adultos com alto grau de interesse nas novas descobertas científicas eram 35% em 1979 e 45% em 1999.
Desde 1988, pergunta-se o grau de concordância dos entrevistados com a frase: "para mim não é importante saber sobre ciências na vida do dia-a-dia". 15% concordam, mais de 80% discordam.

Benefícios da ciência e da tecnologia (Benefits of science and technology)
Nos últimos 40 anos, mais de 80% dos americanos declaram uma visão positiva da ciência e da tecnologia.
Em 1957, a NASW perguntou se o mundo estava melhor ou pior por causa das ciências. 88% responderam que estava melhor. Nas pesquisas de 1997 e 1999 dos SEI da NSB, o mesmo valor foi encontrado (Figura 3).
Em relação à afirmação: "a ciência e a tecnologia estão tornando nossas vidas mais saudáveis, fáceis e confortáveis", em 1957, 94% concordavam; em 1979, 81%; aumentando gradativamente para 90% em 1999 (Figura 3).
Concordaram com a afirmação: "Por causa da ciência e tecnologia, a próxima geração terá mais oportunidades", 3/4 dos americanos em 1985 e mais de 80% ao longo da década de 1990.

Reservas e preocupações em relação à ciência e tecnologia (Reservations and concerns about science and tecnology)
A percepção de benefícios e riscos não são dois extremos de um contínuo, mas dimensões separadas - e negativamente correlacionadas no caso dos EUA.
Concordaram com a frase: "A ciência faz com que a vida mude rápido demais", 40% em 1957, mais de 50% em 1979, caindo para cerca de 40% ao longo da década de 1990. (Figura 3)
Concordaram com a frase: "Dependemos demais da ciência e de modo insuficiente da fé", cerca de metade dos americanos em 1957. Ao longo do tempo houve flutuações, mas o padrão se manteve.


Compatibilização entre benefícios e reservas (The reconciliation between benefits and reservations)
Miller et al. (1997) verificaram a relação entre as percepções entre os benefícios da ciência e da tecnologia e as preocupações a respeito de seu impacto nos EUA, no Canadá, na União Europeia e no Japão. Nas quatro regiões ambos os fatores comportaram-se como dimensões distintas. Nos EUA e no Canadá, houve uma correlação negativa moderada: -0,6. Na Europa e no Japão, uma correlação negativa fraca: -0,11.
Desde 1981, pergunta-se se os "benefícios da pesquisa científica superam os resultados prejudiciais" ou se "os resultados prejudiciais da pesquias científica superam os benefícios". Em 1981, 70% consideraram que os benefícios são maiores do que os prejuízos; em 1999, 75% tinham a mesma opinião. (Figura 4)


Apoio à pesquisa científica (Support to scientific research)
Desde 1981, pergunta-se se os gastos *governamentais* são muito altos, muito baixos ou na medida para a *condução de pesquisas científicas*. Cerca de 1/3 dos americanos acham que o governo investe muito pouco; 45% acham que a quantia é a correta; 14% acham que o gasto é excessivo.
Desde 1985, pergunta-se se concorda ou não com a afirmação: "Mesmo que não traga benefícios imediatos, a pesquisa científica que expande as fronteiras do conhecimento é necessária e deve ser financiada pelo governo federal". Cerca de 80% têm concordado.

Fatores associados à compreensão da pesquisa científica (Factors associated with understanding scientific research)
Considerando-se a alfabetização científica cívica (civic scientific literacy) como a que permite aos cidadãos acompanharem a seção de ciências do New York Times, compreender os episódios de Nova ou a maioria dos livros de divulgação científica nas prateleiras, Miller considerou todos os construtos acima mencionados como medida dessa alfabetização.
Por esse critério, 10% dos adultos eram cientificamente alfabetizados ao fim da década de 1980 e 17% em 1999. (Figura 5.) Um aumento maior do que o observado no Canadá, Europa e Japão.
A Figura 6 mostra a influência de alguns fatores no grau de alfabetização científica do indivíduo. Número de isciplinas científicas na faculdade (0,53), aprendizagem informal (0,30 - inclui a leitura de revistas, jornais, visita a museus de ciências, sítios web científicos, uso de computadores e bibliotecas) e escolaridade (0,19) estão positivamente correlacionas com a alfabetização científica. Sexo feminino (-0,24) e idade (-0,24) estão negativamente correlacionados. Ter filhos pequenos não tem efeito significativo (0,02).
Os EUA são o único país fortemente desenvolvido com disciplinas obrigatórias de educação geral nos cursos superiores. No Japão e na Europa, pode-se graduar em humanidades sem disciplinas científicas. Para o autor, ter disciplinas científicas nos cursos superiores parece explicar um grau um pouco mais elevado de alfabetização científica entre adultos americanos em comparação com o Japão e a Europa.


O que é necessário saber
1. A questão central sobre a aprendizagem dos adultos a respeito da pesquisa científica é a mudança no conhecimento e no comportamento. Há pouca informação a respeito da procura, retenção e uso da informação por adultos. Não faltam teorias e modelos para isso. A maioria dos estudos são do tipo seção de cortetransversal (cross-sectional): i.e. verifica-se um grupo de pessoas em diferentes condições em um mesmo instante. São necessários mais estudos longitudinais: i.e. que acompanhem grupos de pessoas ao longo do tempo.
2. Não está claro por que o impacto da educação científica pré-universitária é tão baixo no comportamento e desempenho posterior dos adultos.
3. É muito importante acompanhar o impacto da tecnologia da informação no desenvolvimento da alfabetização científica, biomédica e na compreensão pública da pesquisa científica.
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