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sábado, 20 de novembro de 2010

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 14 (parte 2 de 2)

Continuando a anotação do trabalho de Burns et al. 2003.

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Comunicação sobre ciências: uma definição contemporânea

Os termos consciência pública de ciências ("public awareness of science" - PAS), compreensão pública de ciências ("public understanding of science" - PUS), alfabetização científica ("scientific literacy" - SL) e cultura científica ("scientific culture" - SC) não são sinônimos, mas há muitos elementos em comum.

*PAS - objetiva estimular a consciência e as atitudes positivas (ou opiniões sobre ciência;
*PUS - é focada na compreensão da ciência: seu conteúdo, processos e fatores sociais;
*SL - situação ideal em que as pessoas estão conscientes ("aware"), interessadas e envolvidas, têm opiniões e buscam compreender as ciências;
*SC - é um ambiente de toda a sociedade que aprecia e apoia as ciências e a alfabetização científica. Tem aspectos social e estético (afetivo) importantes.

Os objetivos da consciência, compreensão, alfabetização e cultura científicas podem ser divididos em cinco respostas pessoais mais amplas às ciências. Se um número suficiente de pessoas tiverem tais respostas, então estas podem ser consideradas como aplicáveis ao público. Essas respostas pessoais podem ser agrupadas sob a sigla AEIOU: Consciência ("awareness") sobre ciências, Apreciação ("enjoyment") ou outras respostas afetivas às ciências; Interesse ("interest") em ciências; a formação, mudança e confirmação de Opiniões ("opinions") ou outras atitudes relacionadas às ciências; e Compreensão ("understanding") de ciências.

A COMUNICAÇÃO SOBRE CIÊNCIAS ("Science Communication" - SciCom) pode ser definida como o uso de habilidades, meios, atividades e diálogos apropriados para produzir uma ou mais das seguintes respostas pessoais às ciências:
Consciência ("awareness"), incluindo familiaridade com novos aspectos das ciências;
Apreciação ("enjoyment") ou outras respostas afetivas, e.g. apreciação das ciências como entretenimento ou arte;
Interesse ("interest"), indicado pelo envolvimento voluntário com ciência ou sua comunicação;
Opiniões ("opinions"), a formação, alteração ou confirmação de atitudes relacionadas às ciências;
Compreensão ("understanding"), seu conteúdo, processos e fatores sociais.

A comunicação sobre ciências pode envolver praticantes de ciências, mediadores e outros membros do público geral tanto entre pares quanto entre grupos distintos.

Focando na comunicação sobre ciências

Modelando comunicação sobre ciências: uma analogia com alpinismo

Koballa, Kemp & Evans propuseam um modelo para a alfabetização científica individual: uma paisagem com picos e vales em três dimensões.
Eixo y: domínio ou área de alfabetização: conhecimento em ciências físicas, da Terra, história das ciências, etc.
Eixo z: nível da realização pessoal em um domínio em particular (mais alto o pico, maior o grau de alfabetização nesse domínio).
Eixo x: valor que o indivíduo associa ao domínio: maior a área x-y mais importante o domínio para a pessoa.

A Figura 2 utiliza a mesma analogia em um quadro mais amplo a respeito da ciências e da sociedade, incluindo contextos de aprendizagem informal.


1. A comunicação sobre ciências não irá causar sempre um aumento imediato na alfabetização científica. Muitos participantes terão um aumento no interesse, uma mudança de atitude sobre ciências que poderá mais tarde melhorar sua alfabetização.
2. Em geral é incorreto assumir que a comunicação sobre ciênicas é apenas para o benefício do público-leigo. Cientistas e mediadores, bem como outros grupos relacionados às ciências: empresas científicas, políticos, tomadores de decisão e membros da mídia podem se beneficiar ao utilizarem as ferramentas da comunicação sobre ciências para partilhar as mensagens científicas. A necessidade de explicar questões complexas em termos leigos pode levar a novas perspectivas sobre o tópico e uma compreensão mais profunda da área pelo profissional.
3. As ciências na verdade são uma cadeia de montanhas em expansão (i.e., de múltiplas alfabetizações), não um pico único. Há várias áreas diferentes de C&T bem como outras alfabetizações culturais espalhadas pelo plano horizontal de domínios e cada um pode ser considerada como uma montanha à parte. Paisley identificou pelo menos 44 alfabetizações tópicas em jornais e mídias populares americanas em áreas como negócios, computadores, saúde, informação, média, política, religião e tecnologia.
4. Um perfil de montanha para um indivíduo é único e muda com o tempo conforme a pessoa: "aprende ou esquece de habilidades e conhecimentos científicos ou vem a valorar diferentes áreas de modos diferentes".
5. Os cientistas não estão no topo das montanhas, nem o público no vale. Enquanto alguns cientistas possam estar no topo de uma ou duas montanhas, estará na base de muitas outras.

A consciência ("awareness") pública de ciências inicia a subida na alfabetização científica. A consciência de que existe uma montanha (um domínio científico) pode levar à adoção subsequente de habilidades e métodos necessários para a escalada.

A compreensão pública de ciências é a consequência de indivíduos (e, assim, a sociedade a que os indivíduos pertencem) a partir de sua consciência ("awareness") buscarem alcançar níveis mais elevados de compreensão e aplicação de matéria científica.

O cume da alfabetização científica é um objetivo bastante ambicioso. A proposição de que relativamente poucas pessoas a alcançarão na prática tem sido fonte de crítica à alfabetização científica. Na sociedade, a alfabetização científica pode ser considerada como a altitude média das pessoas dentro da cadeia de montanhas científicas. Assim, algum grau de alfabetização científica é alcançável por todas as pessoas.

A cultura científica (na figura representada pelas nuvens) é a atmosfera que envolve a tudo e que motiva e sustenta os alpinistas (como a dimensão dos "valores" de Koballa. Sem a atmosfera vital da cultura científica, as pessoas não achariam que seria social, política e pessoalmente aceitável iniciar a escalada.

Comunicadores de ciências (mediadores) podem ser vistos como os guias da montanha. Eles podem ensinar as pessoas a como subir (habilidades), providenciar escadas (mídias), ajudar no próprio ato da escalada (atividades) e manter os alpinistas informados sobre o progresso, possíveis perigos e outras questões relativas à escalada (diálogo).

Escadas e comunicação sobre ciências funcionam em duas vias: para subida e para descida - permitindo o acesso entre pessoas em níveis diferentes: cientistas, mediadores e outros grupos com níveis mais elevados de alfabetização científica podem aprender algo com grupos em níveis mais baixos. O compartilhamento de conhecimento podem desenvolver a habilidade de comunicação dos cientistas, clarificar sua compreensão e fornecer-lhe feedbacks úteis e perspectivas renovadas em várias questões.
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