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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Dia Nacional da Ciência - o que temos a comemorar e o que havemos de esperar?

Hoje, 8 de julho, comemoramos o Dia Nacional da Ciência (instituída pela Lei 10.221/2001).

A data foi criada para celebrar o 50o aniversário da SBPC (o projeto de lei é de 1998):
"Como a fundação da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência se deu no dia 8 de julho e sendo esta entidade um marco de referência da ciência no Brasil, acolhendo sugestão de sua Assembléia Geral, apresentamos o presente projeto de Lei, que por sua relevância, estamos cenas de encontrar apoio em nossos pares para sua aprovação."

E, neste mês, em sua 65a. reunião anual, a entidade discutirá a "Ciência para o Novo Brasil".

Que Ciência emergirá desse "novo" Brasil? Há um "novo" Brasil?

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Por enquanto a Ciência brasileira tem ficado um tanto à mercê de vicissitudes econômicas. Depois de dois anos de cortes duros, quando se reduziu o valor orçamentário de R$ 8,9 bi em 2010 para R$ 5,2 bi em 2012 (o valor efetivamente realizado em 2012 foi maior, com liberação de verbas ao longo do ano, totalizando R$ 8,8 bi), este ano o MCTI teve uma trégua não sendo vítima do contingenciamento de R$ 28 bi anunciado pelo governo federal - o valor anunciado de 2013 para a pasta foi de R$ 10,2 bi.
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Entre 2005 e 2010, o país investiu em média, 1,1% do PIB em Ciência e Tecnologia. Atrás apenas da Federação Russa (1,3%) entre os países com IDH alto e bem acima da média do grupo: 0,47±0,36%. E dentro da média de paises com IDH muito alto: 1,78±1,07%.
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55.047 doutores e mestres foram formados em 2011. Contra 13.219 em 1996. Com 695,7 pesquisadores por milhão de habitantes está dentro da média dos países de IDH alto: 661,1±732,5. E bem abaixo da média dos países de IDH muito alto: 3.352,6±1.849,5
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Em 2011, o país publicou 49.664 artigos científicos, ficando entre os 15 maiores produtores. Compare-se com 13.846 trabalhos em 2001, 3.755 em 1991 e 1.924 em 1981. Ainda há discussões a respeito da qualidade, no entanto. Embora seja um fator de muito difícil avaliação.
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De modo não surpreendente, mas contraditório com as opiniões declaradas dos brasileiros, o financiamento de Ciências é um tema essencialmente ausente nos recentes protestos que pedem mais verbas e recursos pra saúde, educação, transporte/mobilidade urbana, segurança... Em 2010 (antes dos cortes orçamentários, portanto), 68% dos brasileiros concordavam que o governo deveria aumentar os recursos pras ciências; mesmo que os manifestantes não representem a totalidade da população - são em sua maioria jovens universitários da classe média tradicional urbana -, representam um recorte em que provavelmente há apoio substancial para um maior investimento em ciências.
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Um projeto bastante ousado implementado pelo governo federal é o Ciência sem Fronteiras. Focado em engenharia, TI, saúde e energia, o programa atende às expectativas de áreas prioritárias dos brasileiros. Infelizmente tem havido problemas como atrasos de bolsas e questionamentos sobre contabilização de benefícios
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O panorama geral é que há avanços e avanços substanciais nas últimas décadas, mas ainda figuramos em posição intermediária nos indicadores. As atitudes da população em relação às ciências são positivas; no entanto, essas atitudes ainda não se convertem em engajamento.

O novo Brasil que se desenha, de acordo com indicadores socioeconômicos, é mais rico, mais escolarizado e menos desigual, mas também mais obeso e envelhecido, mais urbanizado. Se tem algo que estudos comparativos entre atitudes sobre ciências e desenvolvimento socioeconômico indicam é que maior desenvolvimento econômico acaba correlacionado com atitudes *menos* positivas em relação às ciências.

Possivelmente estamos em uma janela não apenas do bônus populacional (ou bônus demográfico) - apesar de opiniões em contrário - , mas também de bônus atitudinal. Precisamos aproveitá-lo para converter em engajamento com efetivo suporte às ciências: de modo que possamos desenvolver uma "nova" ciência que atenda às demandas futuras desse novo Brasil (maior incidência de doenças cardiovasculares e crônicas associadas à velhice, problemas ambientais e de geração de energia, planejamento urbano e mobilidade, preenchimento de vagas em ocupações de menor especialização, estruturas de telecomunicações, etc...)

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