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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Divagação científica: divulgando ciências cientificamente - 19

Aproveitando minhas leituras para o curso de especialização em Jornalismo Científico do Labjor/Unicamp, faço minhas anotações do texto de Claudio Bertolli Filho, da Unesp, sobre... jornalismo científico.

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Bertolli Filho, C. 2006. Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico. Recensio.

definição
"O Jornalismo Científico, que deve ser em primeiro lugar Jornalismo, depende estritamente de alguns parâmetros que tipificam o jornalismo, como a periodicidade, a atualidade e a difusão coletiva. O Jornalismo, enquanto atividade profissional, modalidade de discurso e forma de produção tem características próprias, gêneros próprios e assim por diante." (Anônimo 2004)

"Um caso particular de divulgação científica e [que] refere-se a processos, estratégias, técnicas e mecanismos para veiculação de fatos que se situam no campo da ciência e da tecnologia. Desempenha funções econômicas, políticoideológicas e sócio-culturais importantes e viabiliza-se, na prática, através de um conjunto diversificado de gêneros jornalísticos" (Wilson Bueno 1984)

linguagem
O JC - e a divulgação científica - não é mera adaptação do discurso-fonte para o público destinatário. Envolve um trabalho novo e original de formulação discursiva (não é mera reformulação).

Envolve uso de múltiplas estratégias de linguagem como metáforas e analogias (fonte de potencial desacordo com os cientistas). Perigo de simplificação excessiva e distorção.

critérios para publicação
1. senso de oportunidade - trabalho antigo volta despertar interesse por algum fato.
2. timing - evento externo a novos acontecimento científicos desperta o interesse da opinião pública.
3. impacto - um trabalho, mesmo antigo, interessa a um grande número de pessoas.
4. significado - profissionais de mídia percebem a importância científica e/ou social de um novo trabalho.
5. pioneirismo - descoberta de um fato novo.
6. interesse humano - envolvimento de emoções humanas para sensibilizar o público e incitá-lo à ação.
7. personagens célebres ou de ampla exposição na mídia - entrevista com autoridades científica e profissionais de prestígio.
8. proximidade - quanto mais próximo o evento do público, maior o potencial de interesse.
9. variedade e equilíbrio - evitar a monotonia, variedade de matérias e enfoques.
10. conflito - situações de confronto despertam o interesse do leitor.
11. necessidade de sobrevivência - matérias que criam no leitor sensação de informação útil para seu bem estar físico e mental.
12. necessidades culturais - novas opções de comportamento e recursos para autoconhecimento.
13. necessidade de conhecimento - "paixão pelo saber" de parte dos leitores.

percalços
1. analfabetismo científico - desconhecimento sobre fatos básicos de ciências pelos profissionais de mídia.
2. interesses das empresas e institutos de pesquisa - podem supervalorizar seus achados para melhorar a imagem ou aumentar os lucros das companhias.
3. relação jornalista/cientistas - reclamações dos cientistas: falta de conhecimento dos jornalistas, tempo tomado, distorções; reclamações dos jornalistas: dificuldade de agendar entrevista, não responder às perguntas feitas, usar jargão e terminologia complexa, machismo, paternalismo.
- Diferenças:
- a. político-culturais: cientistas/paixão pela ciência, jornalista/análise crítica da ciência
- b. vocabulário: potencial de distorção na 'tradução'.
- Soluções parciais:
- a. treinamento de jornalistas: cursos de especialização.
- b. treinamento de cientistas: orientação da relação com jornalistas.
4. questão das fontes
a. palestras à imprensa.
b. comunicado à imprensa.
c. congressos científicos.
d. resumos.
e. press-releases - .
f. periódicos especializados.
Cuidado com os interesses pessoais, comerciais e institucionais (como busca de verbas governamentais e promoção pessoal), distorções pelos cientistas no entusiasmo de acreditar em seu trabalho... Agendamento de pauta pelos cientistas, institutos e publicações. Sistema de embargo de publicações.
Soluções parciais: ouvir outros especialistas não-envolvidos.

leitor
visão dos jornalistas/empresas de comunicação:
- interesses comerciais: paga pelas notícias
- visto como analfabeto científico
visão dos pesquisadores (Revuz 1998, Nunes 2003):
- afoito por novidades, inteligente, curioso por ciências, consciente de que seu conhecimento é menor do que o dos especialistas
Krieghbaum 1970
- parte vira a página ou muda de canal sem demonstrar curiosidade
"As reações às notícias e informações sobre ciência (...) formam uma série que vai desde os que estão cegos em relação à ciência até os que absorvem o noticiário científico e, até certo ponto, os que procedem de acordo com ele"
*Necessidade de despertar e manter o interesse dos leitores x espetacularização

ética
1. conflito de interesses - não aceitar presentes e privilégios na realização da matéria.
2. ganho financeiro pessoal - não noticiar sobre companhia da qual o jornalista tenha vínculos muito próximos.
3. ética das publicações - não publicar anúncios, próximos às notícias, de produtos envolvidos na matéria; corrigir rapidamente imprecisões e erros.
4. contar o que sabe - relatar tudo o que o jornalista julgar importante: conflitos de interesses, divergências na comunidade científica... preservar a imagem das personagens que não coloque em risco a comunidade.
5. ética nas escolhas - tomar ou não partido de um lado.

Possíveis fontes de erros e conflitos (Resnik, 2003)
o público pode:
a. carecer de informações necessárias sobre temas científicos;
b. estar mal informado sobre temas científicos;
c. não entender alguns conceitos ou recomendações científicas;
d. interpretar mal a informação científica;
e. estar completamente confuso sobre os temas científicos e a natureza dos debates científicos;
f. ver-se exposto a bobagens científicas.
os cientistas podem:
a. precipitar-se na hora da publicação dos dados;
b. manter algo em segredo para proteger sua pesquisa preliminar ou evitar controvérsias;
c. falhar em informar a imprensa e o público sobre seu trabalho.
os meios de comunicação podem:
a. ter problemas em ter acesso a congressos científicos e outras fontes de notícias;
b. deixar-se levar por falácias lógicas e estatísticas, evidências anedóticas e amostras enviesadas;
c. citar erroneamente ou fora de contexto;
d. usar fontes marginais ou não dignas de confiança;
e. cair no sensacionalismo, distorcer ou dar enfoque parcial às notícias;
f. deixar de cobrir ou abandonar o seguimento de notícias importantes.

Mitificação do conhecimento científico
Receio em criticar a lógica e aplicação da C&T
Caricaturização da ciência
Determinismo biológico
Preconceito étnico-racial

Recomendações (Segunda Conferência Mundial de Jornalismo Científico 1999):
1. Reconhecer as responsabilidades crescentes e noticiar de forma clara, precisa, íntegra, independente, honesta;
2. Apresentar com atenção não apenas a C&T, mas também os contextos político-sociais e seus meios de produção;
3. Romper as barreiras de língua e se esforçar em apresentar os assuntos de outros países;
4. Oferecer (os editores, organizações de rádiodifusão e outros) apoio e treino aos jornalistas;
5. Desenvolver o fluxo de informações na internet em outras línguas além do inglês;
6. Monitorar também a informação na internet para garantir qualidade, precisão, objetividade e integridade;
7. Apoiar (a Unesco e outras organizações) a criação de um federação mundial de jornalistas científicos [criada em 2002 - WFSJ] e associações nacionais;
8. Apoiar (a Unesco e outras organizações) a criação de espaços de treinamento de jornalistas em todas as regiões e países.

funções
Parâmetros
1. utilidade - o conteúdo útil na tomada de decisões pessoais
2. responsabilidade social - ajudar os cidadãos na tomada de decisões sociais e políticas em matérias que envolvam C&T;
3. valor intrínseco do conhecimento - conteúdos culturalmente universais ou importantes para a história humana;
4. valor filosófico - contribuir para a capacidade de refletir sobre significados e questões como vida e morte, percepção da realidade, certeza e dúvida, bem estar individual x coletivo...

Caráter didático e complementar à educação formal.
Contribuir para a crítica política e fortalecimento da democracia.

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