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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Zoológico = prisão animal?

Na postagem anterior abordei uma queixa (que considero injusta) (de parte) dos defensores dos direitos animais em relação à experimentação animal. Aproveito o embalo para comentar sobre outra queixa, também injusta, deles, a de que zoológicos são cativeiros cruéis de animais e que deveriam ser desativados.

"Pela Extinção do Zoológico, liberdade para os animais inocentes presos sem cometer crime!" bradam alguns ativistas.

É verdade que os animais não cometeram nenhum crime - por definição são incapazes de fazê-lo (ainda que alguns espécimes sejam capturados após ataque a seres humanos e suas propriedades). Mas zoológicos modernos não são meros gabinetes de curiosidades. Desde a década de 1990, os principais zoos do mundo passaram e continuam a passar por uma reformulação em seu papel, assumindo uma importância cada vez maior na conservação biológica.

Os zoos são também centros fundamentais de educação ambiental e de pesquisa biológica/veterinária.

"Zoological parks are evolving institutions in respect to the conservation of biological diversity. From past functions in recreation as menageries and in education as living museums, they are coming to discharge these functions, plus other meaningful ones in research and conservation, as internationally oriented conservation centers. Education is the primary function in conservation, but zoos have begun to make significant contributions as genetic refuges and reservoirs, especially for large vertebrate species threatened with extinction. In developing this capacity zoos have fostered investigations into several facets of small population biology. These have extended to simulation modelling to help predict the outcome of various combinations of ecological, genetic, and demographic factors on the viability of populations in captivity and in the wild. Because resources of zoos are limited in respect to their enlarged functions in conservation and research, they are encouraging development of criteria to help prioritize actions for conservation of biodiversity. North American, European, and Australian zoos are meanwhile assisting the development of technical capacities among zoo counterparts, government agencies, and protected areas in both developing and developed countries of the world to further the conservation of biodiversity. Similar involvement by other biological institutions and by biological professional associations can make important contributions to policies of nations and actions of people that determine the prospects for survival of much of the biota.Rabb 1994*

["Parques zoológicos são instituições em evolução no que diz respeito à conservação da diversidade biológica. De funções pretéritas de recreação como mostruário de feras e na educação como museus vivos, eles estão cumprindo essas funções, além de outras igualmente significativas em pesquisa e conservação, como centros de conservação orientados internacionalmente. Educação é a função primária na conservação, mas os zoos começaram a ter contribuições significativas como refúgios genéticos e reservas, especialmente para grandes espécies vertebradas ameaçadas de extinção. Ao desenvolver essas capacidades, os zoos alimentaram pesquisas em várias facetas da biologia de pequenas populações. Isso se estendeu à modelagem de simulações para ajudar a prever o resultado de várias combinações de fatores ecológicos, genéticos e demográficos na viabilidade de populações em cativeiro e na natureza. Como os recursos dos zoos são limitados face à ampliação de suas funções na conservação e pesquisa, eles incentivam o desenvolvimento de critérios para ajudar na definição de ações prioritárias para a conservação da biodiversidade. Zoos norte-americanos, europeus e australianos, enquanto isso, estão auxiliando no desenvolvimento de capacidades técnicas entre suas contrapartes zoológicas, agências governamentais e áreas de proteção, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, para melhor conservação da biodiversidade. Envolvimento similar por parte de outras instituições biológicas e por associações profissionais biológicas podem dar importante contribuição para as políticas nacionais e ações pessoais que determinem as chances de sobrevivência de boa parte da biota." Raab 1994]

Boa parte da população de grandes centros urbanos têm pouca ou nenhuma oportunidade de contato com ambientes silvestres; os zoológicos oferecem oportunidade de uma experiência próxima com elementos da biota mundial. Praticamente apenas nos zoológicos podem conhecer e ter uma experiência mais próxima com exemplares de várias espécies - inclusive nativas de sua região.

Em vários zoos ocorrem pesquisas comportamentais, fisiológicas, veterinárias importantíssimas que ajudam a fornecer informações para orientar a conservação in situ de diversas espécies e biomas ameaçados. Algumas pesquisas só são possíveis com animais mantidos em cativeiro - ou, pelo menos, são grandemente facilitadas por se poder acompanhar o animal ao longo do tempo e ter controle sobre sua dieta, luminosidade, temperatura ambiente...

Programas de procriação e intercâmbio genético nos zoos são fundamentais para espécies que têm seu hábitat fortemente ameaçado: por caça ilegal, desmatamento, poluição, queimada, especulação imobiliária, expansão das fronteiras agrícolas, presença de espécies invasoras, doenças, etc.

Zoológicos modernos procuram oferecer condições 'humanitárias' de cativeiro, com enriquecimento ambiental, reprodução de características dos hábitats (plantas, iluminação, sombreamento, relevo, textura)...

A ararinha-azul-de-lear, natural do norte da Bahia, encontrava-se em situação de "criticamente ameaçada" até 2008. Graças a programas de reintrodução, que contou com a colaboração de programas de procriação de diversos zoos, a população na natureza aumentou, chegando a pouco mais de 950 indivíduos. Atualmente é classificada como "em perigo" - ainda inspira cuidados, mas houve uma melhora.

O órix-do-saara encontra-se extinto na natureza. Graças a exemplares mantidos em zoológicos, há esperanças de haver reintrodução em seu hábitat - claro, o Saara - de exemplares para repovoamento.

O panda-gigante provavelmente é o símbolo mais famoso dos esforços de conservação que passam pela reprodução em cativeiro, com fundamental participação de intercâmbio genético entre populações de diversos zoológicos.

Há zoológicos sem condições de funcionamento. Estes devem ser readequados e, em último caso, desativados. Mas campanhas genéricas contra zoológicos mostra uma falta de compreensão do valora importância desse importante instrumento de educação, pesquisa e conservação.

*Upideite(15/fev/2016): link atualizado.

Upideite(02/jun/2016): Veja também reportagem em duas partes no programa Oxigênio:
Zoológicos: por que eles ainda existem? (parte I)
Importância dos zoológicos para a pesquisa e preservação (parte II)

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